domingo, 24 de outubro de 2010

Separação precoce..

A onda dos casamentos-relâmpago não atinge só as celebridades. Muitos casais estão começando a jogar a toalha já na primeira crise, às vezes antes de desfazer as malas da lua de mel. Por isso, cresce o índice de divórcios entre jovens no mundo todo. NOVA/JS investigou esse fenômeno.



Divórcio precoce

Ele é lindo, atencioso, simpático e tem bom papo. Seu coração bate forte, as pernas tremem, o estômago se revira. "É o homem da minha vida", pensa. Em pouco tempo, estão dividindo a casa nos finais de semana. Logo depois, ele deixa algumas peças de roupa no seu closet. Um dia, seguindo uma ordem natural, vem morar com você. É mais prático, mais barato e divertido.

Jantares românticos, sexo bom e frequente, tudo às mil maravilhas. Até que se passam dois ou três anos. A toalha molhada em cima da cama começa a irritá-la mais do que nunca. O frio na barriga vai embora e o sexo se torna escasso. Em algum momento entre colocar a mesa do café da manhã e tirar o carro da vaga apertada na garagem você percebe que os planos que ele faz para o futuro parecem estreitos demais para as suas expectativas. Como ele pode ter mudado tanto? Ou será que você é que não é mais a mesma? A pergunta seguinte costuma ser: quem vai ficar com o sofá?

A possibilidade de um divórcio geralmente é mais cogitada após uns dez, 15 anos de um casamento enfraquecido. Não deveria acontecer com casais recém-formados, certo? Mas as separações entre pessoas com menos de 30 anos aumentam no mundo inteiro. No Reino Unido, essa faixa etária já se tornou a campeã de divórcios. No Brasil, o último levantamento do IBGE, de 2008, indicou que mais de 36 mil pessoas entre 25 e 29 anos encerraram naquele ano um casamento malsucedido - crescimento de 27% na última década.

As estatísticas seriam ainda maiores se levassem em conta o fim das uniões informais, em que os pombinhos não assinam nenhum papel antes de juntar as escovas de dentes. Fato é que a lua de mel ficou mais curta. As causas desse fenômeno oferecem um retrato do homem e da mulher modernos. Estamos mais apressados, individualistas e com um novo projeto de felicidade. Tudo isso anda sabotando nossos relacionamentos.

AMOR PARA ONTEM

Compreender que casamento não é o mesmo que brincar de casinha demora. Fazer a relação dar certo exige paciência e saber ouvir o outro. Qualidades atropeladas pelo estilo de vida moderno. "Encontro jovens de 30 anos frustrados porque ainda não são presidentes de empresa. Essa geração quer tudo rapidamente", diz Beatriz. E com o maior número de benefícios. Deseja um emprego que pague bem mas que também lhe permita sair mais cedo na sexta-feira. Tantas expectativas acabam invadindo a esfera das relações amorosas.

No tempo da sua avó, e talvez da sua mãe, ser realizada significava ter cumprido suas obrigações. "Hoje, as pessoas não entendem mais que suas escolhas de vida devam ser pautadas por compromissos. A busca pela felicidade passou a ter caráter de prazer, de autorrealização", diz o psicanalista Luiz Alberto Hanns, professor da Casa do Saber, em São Paulo. "O jovem não está se casando com expectativa de algo necessariamente indissolúvel. Está se casando em busca de satisfação", completa.

O novo projeto de felicidade amorosa, porém, é um tanto quanto cruel. O casal quer construir poder aquisitivo, ter qualidade de vida, manter o romantismo, os amigos... Não dá para cumprir tudo com excelência. "O casamento passa a ser uma maquinaria em que as pessoas se sentem pressionadas e incompetentes", diz Hanns.

E aí, quando nos deparamos com uma situação em que nos vemos obrigadas a abrir mão de algo, nos sentimos sofrendo um grande prejuízo. Como estamos menos tolerantes, um pequeno desequilíbrio na balança basta para sinalizar que o amor não vale mais a pena.

Texto Juliana Diniz / Foto Robert Delahanty

CORAÇÕES DIVIDIDOS

Pense nas características do homem que deseja ter ao seu lado. Ele é inteligente, tem um trabalho bacana e apoia você. Também traz flores e a trata como uma rainha. Existem duas imagens aí: o homem moderno e o homem romântico, que, às vezes, não combinam.

O projeto atual de casamento também é assim, híbrido e confuso. A mulher quer ser tratada com cavalheirismo, mas ter direitos contemporâneos (poder brigar, sair sozinha, dividir responsabilidades sobre a casa). "Ela não tolera mais um casamento vantajoso só para o marido. Reclama porque a transa não é boa, porque ele não foi sensível. Esse rearranjo é novo", diz Hanns.

Nesse cenário em que a mulher se equipara ao homem, somos treinadas para sermos assertivas. "Às vezes vamos para o relacionamento com essa agressividade", alerta a psicóloga Cecília Russo Troiano, autora de Vida de Equilibrista (Cultrix). A verdade é que os jovens colocaram muita energia no trabalho e descuidaram das relações humanas. Além disso, entramos no modus operandi competitivo do "o meu e o teu". Antigamente, os casais faziam tudo juntos e até se tornavam parecidos. Depois ouvimos dizer que cada um deveria cultivar interesses próprios. Acabamos nos tornando individualistas.

Os casais jovens saem separados, têm contas separadas, fazem malas separadas. Em excesso, isso pode acabar com a cumplicidade. "Ele ganhava cinco vezes mais do que eu, mas dividíamos os gastos igualmente a cada conta. Eu me sentia morando em uma república", diz Gabriella Valdambrini, 26 anos, advogada. "Para dar certo, o casal precisa cultivar momentos a dois, fazer planos para o futuro juntos", explica Lana. Ou ambos ficarão sobrecarregados com a enormidade da tarefa de preencher a vida do parceiro. E isso ninguém aguenta.

Texto Juliana Diniz / Foto Robert Delahanty

CORAÇÕES DIVIDIDOS

Pense nas características do homem que deseja ter ao seu lado. Ele é inteligente, tem um trabalho bacana e apoia você. Também traz flores e a trata como uma rainha. Existem duas imagens aí: o homem moderno e o homem romântico, que, às vezes, não combinam.

O projeto atual de casamento também é assim, híbrido e confuso. A mulher quer ser tratada com cavalheirismo, mas ter direitos contemporâneos (poder brigar, sair sozinha, dividir responsabilidades sobre a casa). "Ela não tolera mais um casamento vantajoso só para o marido. Reclama porque a transa não é boa, porque ele não foi sensível. Esse rearranjo é novo", diz Hanns.

Nesse cenário em que a mulher se equipara ao homem, somos treinadas para sermos assertivas. "Às vezes vamos para o relacionamento com essa agressividade", alerta a psicóloga Cecília Russo Troiano, autora de Vida de Equilibrista (Cultrix). A verdade é que os jovens colocaram muita energia no trabalho e descuidaram das relações humanas. Além disso, entramos no modus operandi competitivo do "o meu e o teu". Antigamente, os casais faziam tudo juntos e até se tornavam parecidos. Depois ouvimos dizer que cada um deveria cultivar interesses próprios. Acabamos nos tornando individualistas.

Os casais jovens saem separados, têm contas separadas, fazem malas separadas. Em excesso, isso pode acabar com a cumplicidade. "Ele ganhava cinco vezes mais do que eu, mas dividíamos os gastos igualmente a cada conta. Eu me sentia morando em uma república", diz Gabriella Valdambrini, 26 anos, advogada. "Para dar certo, o casal precisa cultivar momentos a dois, fazer planos para o futuro juntos", explica Lana. Ou ambos ficarão sobrecarregados com a enormidade da tarefa de preencher a vida do parceiro. E isso ninguém aguenta.

Texto Juliana Diniz / Foto Robert Delahanty

DEPOIMENTOS

"Sempre sonhei com um casamento de cinema. Aos 26 anos, após dois e meio de namoro, investi 65 mil numa festa para 360 convidados. Ele era um príncipe. Adorava minha família e era amado por elas. Mas o encantamento acabou em cinco meses. Quando voltamos da lua de mel na Disney, ele foi demitido. Mesmo tendo arrumado outro emprego, surtou. Passava três dias sem falar comigo e fizemos sexo apenas seis vezes. Deixei de reconhecer nele aquele cara romântico. Peguei as malas, o cachorro e voltei para a casa dos meus pais."
Cristiane Pompeu, 30 anos, publicitária

"Conheci meu namorado no colégio, aos 19 anos. Namoramos durante quatro anos, até que ele recebeu uma proposta de trabalho em Paris. Foi o momento "ou vai ou racha". Larguei meu emprego para acompanhá-lo. Queria ter uma experiência fora; ele precisava de apoio. A gente se gostava, mas hoje vejo que foi uma decisão, em boa parte, por conveniência. Meu ex-marido só trabalhava. Eu me sentia abandonada e explorada, cuidando de tudo para ele como uma mãe. O relacionamento morreu."
Ana Bilton, 28 anos, produtora de moda


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